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“Tinha comigo um romance, Os Três Mosqueteiros, velha tradução creio do Jornal do Comércio. Sentei-me à mesa que havia no centro da sala, e à luz de um candeeiro de querosene, enquanto a casa dormia, trepei ainda uma vez ao cavalo magro de D'Artagnan e fui-me às aventuras. Dentro em pouco estava completamente ébrio de Dumas. Os minutos voavam, ao contrário do que costumam fazer, quando são de espera; ouvi bater onze horas, mas quase sem dar por elas, um acaso. Entretanto, um pequeno rumor que ouvi dentro veio acordar-me da leitura. Eram uns passos no corredor que ia da sala de visitas à de jantar; levantei a cabeça; logo depois vi assomar à porta da sala o vulto de Conceição.
— Ainda não foi? Perguntou ela.
— Não fui, parece que ainda não é meia-noite.
— Que paciência.
Conceição entrou na sala, arrastando as chinelinhas da alcova. Vestia um roupão branco, mal apanhado na cintura. Sendo magra, tinha um ar de visão romântica, não disparatada com o meu livro de aventuras. Fechei o livro, ela foi sentar-se na cadeira que ficava defronte de mim, perto do canapé. “Como eu lhe perguntasse se a havia acordado, sem querer, fazendo barulho, respondeu com presteza...”.
(Trecho de missa do Galo, Machado de Assis).
Este é um trecho do conto missa do galo de uma das mais brilhantes mentes escritoras do Brasil, claro o nosso querido Machado de Assis. Claro que vocês já ouviram falar desse mestre do Realismo e histórias brilhantes e fascinantes, então vamos conhecer mais um pouco sobre sua vida e obras para que possamos compreender e comprovar que este é o maior nome da literatura brasileira.
Faz cerca de 170 anos do nascimento de Machado no Morro do Livramento, na bela, Rio de Janeiro. Recebeu por nome Joaquim Maria Machado de Assis, mas conhecido por Machado de Assis. Como era natural das famílias pobres Machado frequentou escolas públicas toda sua vida, não ingressou em nenhuma universidade, porém tamanhas adversidades e dificuldades não fizeram com que Machado desistisse, prova disso é que ele escreveu em vários gêneros literários, expressando todo o seu talento e força de vontade.
Com espírito Burguês, ele conseguiu prestigio e se tornou muito influente, Assis escrevia historias, contos e crônicas voltadas em sua maioria à corte, o que fez com que suas obras acendessem rapidamente e que se tornasse referência brasileira para o mundo (isso agora por que em sua época Assis não era conhecido internacionalmente). Fundou e foi o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras.
Com a publicação de Memória Póstumas de Brás Cubas ele inseriu o Realismo no Brasil, esta é considera uma de suas obras primas, claro ao lado de Dom Casmurro, Quincas Borba, Esaú e Jacó, Memorial de Aires entre outros. O Realismo foi um movimento que surgiu no século XIX. O realismo manifestou-se principalmente na prosa, e ficou conhecida por seus romances realistas tornando-se instrumentos de crítica ao comportamento burguês e às instituições sociais.
Como romancista, poeta, cronista, dramaturgo, folhetinista, jornalista, crítico e contista, se destacava tanto nos pequenos detalhes como em suas grandes sacadas, um exemplo que ilustra bem essa situação é o conto Missa do Galo.
Por gostar de vários estilos Machado faz referências a um estilo despreocupado com o que acontecia na época, podemos notar cinco princípios o primeiro deles é o elemento clássico, que conta com o equilíbrio, concisão, contenção lírica e expressional; os resíduos românticos, que são as narrativas convencionais ao enredo; tendo também as aproximações realistas, como a crítica, a objetividade, os temas contemporâneos; também os procedimentos impressionistas, como a recriação do passado através da memória, e colocar um fim a antecipações modernas.
O acervo de Machado de Assis consta por volta de 1.400 ao total de livros encadernados, brochuras, folhetins entre outros. Como não dá para fazer a análise de todas as suas obras, falarei brevemente sobre. Memórias Póstumas de Brás Cubas (livro) e Missa do Galo (conto) que são os meus favoritos, mas claro o autor conta com verdadeiras obras primas.
Trecho de Brás Cubas.
“Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contracção cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...
E caem! -- Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu tivesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar... Heis de cair”.
Espero que tenham gostado bjus!!!!
😍😍😍😍😍
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